Amílcar Cabral: polémico 38 anos depois

Venho acompanhando de forma tímida, a trajectória dos candidatos às eleições presidenciais em Cabo Verde. Confesso que tudo o que eu tenho escutado e lido pesquisei na internet: jornais online, sites dos candidatos e outros boletins informativos, mesmo assim ainda eu não decidi o meu voto ou simpatia para com qualquer candidato.
Talvez vocês possam dizer que já está na hora de eu escolher ou mesmo que eu deveria me envolver mais, pesquisar, informar e preocupar-me mais com essa questão por ser de extrema importância para o meu país a escolha do nosso presidente.

Não estão errados, vivo dizendo a mim mesma que eu deveria ser mais activa politicamente, me preocupar mais com tais questões, exercer de forma mais firme meu direito de cidadã, principalmente por eu acreditar que todos os problemas ligados à política não advêm da política em si, mas de quem a exerce. Não entendo quando certas pessoas dizem que a política é o parasita das sociedades, que todos os políticos são corruptos, que a política deveria ser banida e por ai vai.
Bem, se quisermos viver numa anarquia total e em constante estado de sítio, tudo bem, que seja banida! Mas não sou cientista política por isso não cabe a mim fazer uma explanação mais profunda sobre este assunto.

Palavra puxa palavra e não consigo entrar no assunto que me levou a escrever este artigo que é analisar, sob o meu ponto de vista, toda essa recente polémica em torno da morte de Amílcar Cabral a poucos dias das eleições.
Num belo dia veio o Primeiro-ministro, José Maria Neves e disse que Cabral foi morto por dirigentes do PAIGC e obviamente as reacções choveram de todos os lados, a oposição encontrou argumentos suficientes para desacreditar um partido que já está enfraquecido pelas disputas internas com as quais lida desde antes mesmo do começo das campanhas; os cidadãos simpatizantes e apoiantes de um ou outro candidato trocam farpas acusando-se mutuamente pelas declarações, exigindo provas e esclarecimentos sobre a verdadeira causa da morte do nosso herói.

Já eu que faço parte do povo, da massa que dá o seu voto, plateia para a qual os candidatos discursam e tentam a todo o custo convencer das boas intenções e competências, pergunto-me qual a finalidade de uma polémica dessa magnitude em plena campanha presidencial?
Vou mais longe, o que estas declarações agregam de valor neste momento das eleições?
Vai mudar alguma coisa na vida das pessoas ou trazer algum beneficio para o povo que luta todos os dias para obter o pão-nosso-de-cada-dia?
A meu ver, houve uma absurda troca de prioridades nos palanques cabo-verdianos!

Não me entendam mal, é indiscutível a necessidade de analisar e esclarecer essas acusações. A vida e morte de Cabral, seus companheiros combatentes como toda a história da luta para a independência fazem parte de um legado importantíssimo que pertence ao povo de Cabo Verde e não somente a um determinado partido politico e isso por si só já é um motivo mais que suficiente para argumentar a necessidade de revelar todos os segredos que pairam em volta deste caso.
Os governantes têm por obrigação plena investir nessa análise histórica, não para fazer uso de tais informações para agressões políticas em épocas de eleições mas para conhecer o nosso passado, valorizar a nossa cultura, compreender o presente e, consequentemente, perspectivar um futuro melhor para o país, sem cometer os mesmos erros anteriores, esse é o principal objectivo do ramo da ciência que se chama História.

Mas deixemos tudo isso para outra ocasião, depois das campanhas, que essa análise seja feita por pesquisadores profissionais, com provas concretas, documentos e relatos fiáveis, que sejam abertas todos os arquivos confidenciais e se faça uma análise científica dos dados, sem apologias políticas ou distorções.
Que seja uma análise critica, coerente, baseada na verdade dos fatos e provas concretas, penso que Cabral e todos aqueles que morreram em nome da independência dos países africanos merecem essa veracidade e respeito à obra que nos deixaram de herança.

 Aproveitemos para fazer o mesmo com a morte de Renato Cardoso, os confrontos da reforma agrária em Santo Antão, esclarecer todas as acusações feitas ao MPD nos 10 anos de governação, esclarecer supostos desvios e lavagem de dinheiro que todos os dias ouvimos falar mas que ninguém comprova e outras tantas polémicas que surgem de tempos em tempos e que acabam caindo no esquecimento de um povo tradicionalmente pacifico, com a ajuda de uma justiça lenta e as graças de uma mídia covarde e silenciada.
 É, caros amigos, nem só de Cabral se constrói uma nação!

Acredito que o nosso Primeiro-ministro foi precipitado no seu discurso quando fez tais declarações sem estar em condições de apresentar provas irrefutáveis quanto a este assunto. Digo mais, ele fugiu completamente do seu foco de prioridades, que deveria ser o futuro do país e não o passado.
Em meio a tudo isso vem o líder do partido da oposição Dr. Carlos Veiga dizer que “Estamos num momento bastante importante, num momento de decisão para a escolha de um Presidente da República e não podem ficar dúvidas nesta matéria. É algo muito grave, que tem de ser esclarecido de forma cabal antes das eleições, para que o voto do povo seja feito em consciência e com o conhecimento total que é preciso ter”.
Discurso igualmente desnecessário nessa altura do campeonato, um sinal claro de querer colocar "mais lenha na fogueira" e estimular a polémica.

Ambos os líderes dos maiores partidos de Cabo Verde pecaram nas suas declarações num momento em que o mais importante é decidir o próximo presidente do nosso país. A prioridade é o futuro de Cabo Verde, o povo e suas necessidades e não disputas partidárias baseadas em acusações não comprovadas, troca de farpas, declarações polémicas, principalmente quando estas remetem ao que aconteceu 38 anos atrás.
Querem discutir Cabral, óptimo, façamos isso, mas antes analisemos a hora, o local, as palavras e principalmente as prioridades do país!

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Amílcar Cabral: polémico 38 anos depois

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Venho acompanhando de forma tímida, a trajectória dos candidatos às eleições presidenciais em Cabo Verde. Confesso que tudo o que eu tenho escutado e lido pesquisei na internet: jornais online, sites dos candidatos e outros boletins informativos, mesmo assim ainda eu não decidi o meu voto ou simpatia para com qualquer candidato.
Talvez vocês possam dizer que já está na hora de eu escolher ou mesmo que eu deveria me envolver mais, pesquisar, informar e preocupar-me mais com essa questão por ser de extrema importância para o meu país a escolha do nosso presidente.

Não estão errados, vivo dizendo a mim mesma que eu deveria ser mais activa politicamente, me preocupar mais com tais questões, exercer de forma mais firme meu direito de cidadã, principalmente por eu acreditar que todos os problemas ligados à política não advêm da política em si, mas de quem a exerce. Não entendo quando certas pessoas dizem que a política é o parasita das sociedades, que todos os políticos são corruptos, que a política deveria ser banida e por ai vai.
Bem, se quisermos viver numa anarquia total e em constante estado de sítio, tudo bem, que seja banida! Mas não sou cientista política por isso não cabe a mim fazer uma explanação mais profunda sobre este assunto.

Palavra puxa palavra e não consigo entrar no assunto que me levou a escrever este artigo que é analisar, sob o meu ponto de vista, toda essa recente polémica em torno da morte de Amílcar Cabral a poucos dias das eleições.
Num belo dia veio o Primeiro-ministro, José Maria Neves e disse que Cabral foi morto por dirigentes do PAIGC e obviamente as reacções choveram de todos os lados, a oposição encontrou argumentos suficientes para desacreditar um partido que já está enfraquecido pelas disputas internas com as quais lida desde antes mesmo do começo das campanhas; os cidadãos simpatizantes e apoiantes de um ou outro candidato trocam farpas acusando-se mutuamente pelas declarações, exigindo provas e esclarecimentos sobre a verdadeira causa da morte do nosso herói.

Já eu que faço parte do povo, da massa que dá o seu voto, plateia para a qual os candidatos discursam e tentam a todo o custo convencer das boas intenções e competências, pergunto-me qual a finalidade de uma polémica dessa magnitude em plena campanha presidencial?
Vou mais longe, o que estas declarações agregam de valor neste momento das eleições?
Vai mudar alguma coisa na vida das pessoas ou trazer algum beneficio para o povo que luta todos os dias para obter o pão-nosso-de-cada-dia?
A meu ver, houve uma absurda troca de prioridades nos palanques cabo-verdianos!

Não me entendam mal, é indiscutível a necessidade de analisar e esclarecer essas acusações. A vida e morte de Cabral, seus companheiros combatentes como toda a história da luta para a independência fazem parte de um legado importantíssimo que pertence ao povo de Cabo Verde e não somente a um determinado partido politico e isso por si só já é um motivo mais que suficiente para argumentar a necessidade de revelar todos os segredos que pairam em volta deste caso.
Os governantes têm por obrigação plena investir nessa análise histórica, não para fazer uso de tais informações para agressões políticas em épocas de eleições mas para conhecer o nosso passado, valorizar a nossa cultura, compreender o presente e, consequentemente, perspectivar um futuro melhor para o país, sem cometer os mesmos erros anteriores, esse é o principal objectivo do ramo da ciência que se chama História.

Mas deixemos tudo isso para outra ocasião, depois das campanhas, que essa análise seja feita por pesquisadores profissionais, com provas concretas, documentos e relatos fiáveis, que sejam abertas todos os arquivos confidenciais e se faça uma análise científica dos dados, sem apologias políticas ou distorções.
Que seja uma análise critica, coerente, baseada na verdade dos fatos e provas concretas, penso que Cabral e todos aqueles que morreram em nome da independência dos países africanos merecem essa veracidade e respeito à obra que nos deixaram de herança.

 Aproveitemos para fazer o mesmo com a morte de Renato Cardoso, os confrontos da reforma agrária em Santo Antão, esclarecer todas as acusações feitas ao MPD nos 10 anos de governação, esclarecer supostos desvios e lavagem de dinheiro que todos os dias ouvimos falar mas que ninguém comprova e outras tantas polémicas que surgem de tempos em tempos e que acabam caindo no esquecimento de um povo tradicionalmente pacifico, com a ajuda de uma justiça lenta e as graças de uma mídia covarde e silenciada.
 É, caros amigos, nem só de Cabral se constrói uma nação!

Acredito que o nosso Primeiro-ministro foi precipitado no seu discurso quando fez tais declarações sem estar em condições de apresentar provas irrefutáveis quanto a este assunto. Digo mais, ele fugiu completamente do seu foco de prioridades, que deveria ser o futuro do país e não o passado.
Em meio a tudo isso vem o líder do partido da oposição Dr. Carlos Veiga dizer que “Estamos num momento bastante importante, num momento de decisão para a escolha de um Presidente da República e não podem ficar dúvidas nesta matéria. É algo muito grave, que tem de ser esclarecido de forma cabal antes das eleições, para que o voto do povo seja feito em consciência e com o conhecimento total que é preciso ter”.
Discurso igualmente desnecessário nessa altura do campeonato, um sinal claro de querer colocar "mais lenha na fogueira" e estimular a polémica.

Ambos os líderes dos maiores partidos de Cabo Verde pecaram nas suas declarações num momento em que o mais importante é decidir o próximo presidente do nosso país. A prioridade é o futuro de Cabo Verde, o povo e suas necessidades e não disputas partidárias baseadas em acusações não comprovadas, troca de farpas, declarações polémicas, principalmente quando estas remetem ao que aconteceu 38 anos atrás.
Querem discutir Cabral, óptimo, façamos isso, mas antes analisemos a hora, o local, as palavras e principalmente as prioridades do país!

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