Os queridos "padrinhos" de Cabo Verde!



O nosso Primeiro Ministro, José Maria Neves, em discurso na cerimónia de abertura do III Seminário Internacional Renato Cardoso sob o lema “As transformações do mundo do trabalho e os novos modelos de gestão" disse o seguinte:
“...Se cumprirmos isso, eu terei cumprido toda a minha missão desta legislatura que é buscarmos e passarmos a fazer o recrutamento com base em concursos públicos, os melhores serem promovidos, começar a fazer tudo para que a progressão nas carreiras tenham como base o mérito, o bom desempenho”.

Eu digo, Amén!
Que a "padrinhagem" em Cabo Verde é uma realidade indíscutivel todos sabem, é um verdadeiro tráfico de influências. Estamos cansados de ver e ouvir casos de favorecimentos na função pública, nas empresas, nos hospitais até na atribuição de bolsas de estudo. Todos as semanas os jornais noticiam casos de pessoas prejudicadas por tal esquema, não é segredo para ninguém. O "sistema" está tão presente no nosso dia-a-dia que nos acostumamos a fazer uso dela sem medir consequências e nem ao menos pensá-la como algo antiético. Está tão enraízada na nossa cultura que usámo-la em questões tão básicas, desde burlar a fila do supermecado ou do banco, como também para favores na esfera profissional ou política.

Eu sou completamente contra esta prática, digo desde já!
Não vou ser hipócrita em afirmar que nunca fiz uso de contactos ou de pessoas próximas para conseguir algo. Em Cabo Verde por mais que tentes lutar contra o "sistema", tens que alguma vez sucumbir-te para conseguires alcançar certas metas, e mesmo se quiseres ocupar um cargo ou posição que te permita lutar contra ele tens que primeiro enveredar por desvios, cobrar favores, fazer parcerias, eliminar a concorrência, etc. Isso acontece em vários países, não apenas em Cabo Verde, faz parte da história da humanidade, grandes impérios foram contruídos e destruídos a base de trapaças e conspirações, ninguém é completamente honesto por mais que diga o contrário!

Mas também já fui muito prejudicada pelo "sistema", principalmente quando acreditava piamente na minha imunidade contra ele. Quando terminei a licenciatura jurei que nunca faria parte do grupo de pessoas que só conseguiam altos cargos ou certas regalias fazendo uso das "amizades", troca de favores ou pedidos especiais. Percorri todas as empresas e instituições nas quais eu tinha interesse em trabalhar, segui a minha consciência, fiz tudo como mandava a lei, passei meses entregando curriculos e não conseguia absolutamente nada, enquanto eu via meus colegas também recêm-formados sendo empregados, todos com o mesmo perfil e inexperiência que eu. Comecei a questionar o que eles tinham e eu não até que um "informado" me abriu os olhos, dizendo: Minha amiga, eles vão atrás de padrinhos e tu não!
Eu, uma recêm-formada precisando desesperadamente do seu primeiro trabalho, decidi fechar os olhos e tentar por outras vias e realmente quando alguêm intercedeu por mim, em menos de um mês já estava empregada.

Este episódio de forma alguma mudou minha opinião sobre este assunto, ainda hoje acredito e tento de todas as formas conquistar as coisas pelo meu esforço e mérito, só não sou mais inocente ao ponto de dizer que não terei de fechar os olhos à minha moral uma vez ou outra, caso contrário não irei a lado nenhum, principalmente eu que almejo uma carreira bem sucedida!
Porém, continuo firme na decisão de lutar com todas as minhas forças contra este sistema por considerar uma falta de respeito a quem se esforça para se formar, ser bom profissional, estuda vários anos para preparar-se para o mercado de trabalho, pais que se matam de trabalhar para garantir um curso universitário ao filho e quando vão atrás de oportunidades são descartados porque alguém que conhece o primo do chefe da empresa, ou é amiga do amigo do director indicou outra pessoa ao cargo.
Muitas vezes a pessoa não tem experiência suficiente para assumir tal responsabilidade, não possui perfil exigido ou no pior dos casos, nem é da àrea.
 Exige-se urgentemente medidas do governo a fim de eliminar esta prática, é inadmissível que um país que se diz de desenvolvimento médio, que procura uma parceria especial com a União Europeia, possui boa reputação a nível internacional e é referência de boa governação no continente africano mantenha um sistema tão corrupto de favorecimentos.

Para que o nosso país alcance os níveis de desenvolvimento que todos esperam é necessário que se aposte em bons profissionais, que todos tenham oportunidades iguais, que os requisitos de aceitação e crescimento profissional se baseiem nos bons resultados, mérito, liderança e esforço pessoal. As instituições, sejam elas públicas ou privadas devem indiscutivelmente investir nas boas práticas, começando pelas formas de recrutamento dos seus profissionais.
O concurso, seja público ou privado, baseado em provas, entrevistas, avaliação de curriculos e  outras técnicas de seleção dos candidactos é e deve ser a melhor forma de se conseguir isso. Exige maior e melhor preparação dos interessados sobre o cargo e a àrea de conhecimento que a empresa oferece, quando implementado de forma eficaz fornece oportunidades iguais a todos os candidactos, garante transparência na escolha do profissional e permite que o cargo seja ocupado exatamente por quem se preparou para enfrentar tal desafio.
Adiciona-se a tudo isso a boa imagem que a empresa e o país transmitem aos investidores e parceiros internacionais.

Não é fácil colocar em prática tudo isso, exige tempo, dinheiro e toda uma reestruturação empresarial e governamental em Cabo Verde.
O comportamento, os costumes e práticas são os itens mais difíceis de mudar no ser humano, e a "padrinhagem" é exatamente um costume que está instalado na nossa sociedade há vários séculos, herdámo-la dos nossos colonizadores portugueses (esclareço que não é preconceito da minha parte, é história, vejam que todos os países de colonização portuguesa lidam com o mesmo problema, enquanto que os de colonização inglesa e francesa por exemplo têm outra visão sobre o trabalho, são menos burocratas).

 Para eliminar esta prática é necessário trabalhar desde a base, ou seja, desde o comportamento do caboverdiano, a visão dele sobre o trabalho, desenvolvimento e cidadania; é um trabalho que deve ser feito nas escolas, em casa, estimulando desde cedo nas crianças o esforço e mérito próprio; exige investimento em técnicas de promoção e bonificação dos funcionários não apenas se resumindo em aumentos salariáis mas também em oportunidades de crescimento dentro das empresas, regalias especiais ou metas de desempenho, entre várias outras práticas.
 Para isso temos que nos espelhar nas boas práticas de outros países que conseguiram vencer este sistema e alcançaram altos níveis de desenvolvimento. Temos que nos basear nas lições aprendidas de várias iniciativas que deram certo e investi-las no nosso país. Um bom exemplo é o caso do Brasil, um país que também lida com graves problemas de corrupção e burocracia; A história dos concursos é recente no país mas vem dando provas de eficiência não só no recrutamento dos profissionais certos como também ajudou na redução do desemprego, além de ter-se transformado num mercado que movimenta 1 bilhão de reais por ano.

É importante que um país com ambições de crescimento como Cabo Verde comece a se preocupar com estas questões, são necessidades de reestruturação e inovação óbvias quando se quer alcançar um patamar de desenvolvimento nos moldes desejados. Principalmente um país com tantos atractivos para investimentos como é o caso de Cabo Verde que vão desde a estabilidade política e social, o grau de instrução da população, a posição geográficamente estratégica, baixos indíces de doenças contagiosas, uma população jovem e atractivos turísticos, deve necessáriamente reavaliar e reestruturar sua forma de trabalhar, adaptando-se aos moldes e boas práticas exigidas pelas instituições e empresas com as quais quer formar parcerias.
Espero sinceramente que o nosso Primeiro Ministro coloque em prática sua idéia que tem tudo para dar certo. Que este não seja apenas mais uma promessa de campanha!

1 comentários:

Anónimo disse...

Gostei, mais um excelente artigo minha querida irmã.Todos os teus artigos teem fundamento,são a pura verdade e vais directo ao ponto.É por isso q somos irmãos.Mas como teu irmão me preocupo contigo e devo te alertar pq te conheço e sei como és teimosa e qdo metes uma coisa na cabeça, ninguem consegue te convencer o contrário.Não é q não tás certa,pelo contrário.Mas infelizmente deves ter em conta q no Mundo em que vivemos,90% das pessoas na qual convivemos no dia-dia não são de confiança,incluindo muitos dos q acompanham o teu blog.Penso que deves continuar a pensar e a exprimir teus sentimentos como tal,mas tb acho q a escola da vida nos ensina como e qual o momento exacto em que devemos agir,o que dizer e como dizer.Qual a melhor arma a ser usada.Espero q nunca, mas temo q sejas prejudicada,pois falam na liberdade de expressão e na democracia,mas elas existem em todo o lado,menos na cabeça do ser humano,o pior animal à face da terra.Bjs, te amo fofa.

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Os queridos "padrinhos" de Cabo Verde!

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O nosso Primeiro Ministro, José Maria Neves, em discurso na cerimónia de abertura do III Seminário Internacional Renato Cardoso sob o lema “As transformações do mundo do trabalho e os novos modelos de gestão" disse o seguinte:
“...Se cumprirmos isso, eu terei cumprido toda a minha missão desta legislatura que é buscarmos e passarmos a fazer o recrutamento com base em concursos públicos, os melhores serem promovidos, começar a fazer tudo para que a progressão nas carreiras tenham como base o mérito, o bom desempenho”.

Eu digo, Amén!
Que a "padrinhagem" em Cabo Verde é uma realidade indíscutivel todos sabem, é um verdadeiro tráfico de influências. Estamos cansados de ver e ouvir casos de favorecimentos na função pública, nas empresas, nos hospitais até na atribuição de bolsas de estudo. Todos as semanas os jornais noticiam casos de pessoas prejudicadas por tal esquema, não é segredo para ninguém. O "sistema" está tão presente no nosso dia-a-dia que nos acostumamos a fazer uso dela sem medir consequências e nem ao menos pensá-la como algo antiético. Está tão enraízada na nossa cultura que usámo-la em questões tão básicas, desde burlar a fila do supermecado ou do banco, como também para favores na esfera profissional ou política.

Eu sou completamente contra esta prática, digo desde já!
Não vou ser hipócrita em afirmar que nunca fiz uso de contactos ou de pessoas próximas para conseguir algo. Em Cabo Verde por mais que tentes lutar contra o "sistema", tens que alguma vez sucumbir-te para conseguires alcançar certas metas, e mesmo se quiseres ocupar um cargo ou posição que te permita lutar contra ele tens que primeiro enveredar por desvios, cobrar favores, fazer parcerias, eliminar a concorrência, etc. Isso acontece em vários países, não apenas em Cabo Verde, faz parte da história da humanidade, grandes impérios foram contruídos e destruídos a base de trapaças e conspirações, ninguém é completamente honesto por mais que diga o contrário!

Mas também já fui muito prejudicada pelo "sistema", principalmente quando acreditava piamente na minha imunidade contra ele. Quando terminei a licenciatura jurei que nunca faria parte do grupo de pessoas que só conseguiam altos cargos ou certas regalias fazendo uso das "amizades", troca de favores ou pedidos especiais. Percorri todas as empresas e instituições nas quais eu tinha interesse em trabalhar, segui a minha consciência, fiz tudo como mandava a lei, passei meses entregando curriculos e não conseguia absolutamente nada, enquanto eu via meus colegas também recêm-formados sendo empregados, todos com o mesmo perfil e inexperiência que eu. Comecei a questionar o que eles tinham e eu não até que um "informado" me abriu os olhos, dizendo: Minha amiga, eles vão atrás de padrinhos e tu não!
Eu, uma recêm-formada precisando desesperadamente do seu primeiro trabalho, decidi fechar os olhos e tentar por outras vias e realmente quando alguêm intercedeu por mim, em menos de um mês já estava empregada.

Este episódio de forma alguma mudou minha opinião sobre este assunto, ainda hoje acredito e tento de todas as formas conquistar as coisas pelo meu esforço e mérito, só não sou mais inocente ao ponto de dizer que não terei de fechar os olhos à minha moral uma vez ou outra, caso contrário não irei a lado nenhum, principalmente eu que almejo uma carreira bem sucedida!
Porém, continuo firme na decisão de lutar com todas as minhas forças contra este sistema por considerar uma falta de respeito a quem se esforça para se formar, ser bom profissional, estuda vários anos para preparar-se para o mercado de trabalho, pais que se matam de trabalhar para garantir um curso universitário ao filho e quando vão atrás de oportunidades são descartados porque alguém que conhece o primo do chefe da empresa, ou é amiga do amigo do director indicou outra pessoa ao cargo.
Muitas vezes a pessoa não tem experiência suficiente para assumir tal responsabilidade, não possui perfil exigido ou no pior dos casos, nem é da àrea.
 Exige-se urgentemente medidas do governo a fim de eliminar esta prática, é inadmissível que um país que se diz de desenvolvimento médio, que procura uma parceria especial com a União Europeia, possui boa reputação a nível internacional e é referência de boa governação no continente africano mantenha um sistema tão corrupto de favorecimentos.

Para que o nosso país alcance os níveis de desenvolvimento que todos esperam é necessário que se aposte em bons profissionais, que todos tenham oportunidades iguais, que os requisitos de aceitação e crescimento profissional se baseiem nos bons resultados, mérito, liderança e esforço pessoal. As instituições, sejam elas públicas ou privadas devem indiscutivelmente investir nas boas práticas, começando pelas formas de recrutamento dos seus profissionais.
O concurso, seja público ou privado, baseado em provas, entrevistas, avaliação de curriculos e  outras técnicas de seleção dos candidactos é e deve ser a melhor forma de se conseguir isso. Exige maior e melhor preparação dos interessados sobre o cargo e a àrea de conhecimento que a empresa oferece, quando implementado de forma eficaz fornece oportunidades iguais a todos os candidactos, garante transparência na escolha do profissional e permite que o cargo seja ocupado exatamente por quem se preparou para enfrentar tal desafio.
Adiciona-se a tudo isso a boa imagem que a empresa e o país transmitem aos investidores e parceiros internacionais.

Não é fácil colocar em prática tudo isso, exige tempo, dinheiro e toda uma reestruturação empresarial e governamental em Cabo Verde.
O comportamento, os costumes e práticas são os itens mais difíceis de mudar no ser humano, e a "padrinhagem" é exatamente um costume que está instalado na nossa sociedade há vários séculos, herdámo-la dos nossos colonizadores portugueses (esclareço que não é preconceito da minha parte, é história, vejam que todos os países de colonização portuguesa lidam com o mesmo problema, enquanto que os de colonização inglesa e francesa por exemplo têm outra visão sobre o trabalho, são menos burocratas).

 Para eliminar esta prática é necessário trabalhar desde a base, ou seja, desde o comportamento do caboverdiano, a visão dele sobre o trabalho, desenvolvimento e cidadania; é um trabalho que deve ser feito nas escolas, em casa, estimulando desde cedo nas crianças o esforço e mérito próprio; exige investimento em técnicas de promoção e bonificação dos funcionários não apenas se resumindo em aumentos salariáis mas também em oportunidades de crescimento dentro das empresas, regalias especiais ou metas de desempenho, entre várias outras práticas.
 Para isso temos que nos espelhar nas boas práticas de outros países que conseguiram vencer este sistema e alcançaram altos níveis de desenvolvimento. Temos que nos basear nas lições aprendidas de várias iniciativas que deram certo e investi-las no nosso país. Um bom exemplo é o caso do Brasil, um país que também lida com graves problemas de corrupção e burocracia; A história dos concursos é recente no país mas vem dando provas de eficiência não só no recrutamento dos profissionais certos como também ajudou na redução do desemprego, além de ter-se transformado num mercado que movimenta 1 bilhão de reais por ano.

É importante que um país com ambições de crescimento como Cabo Verde comece a se preocupar com estas questões, são necessidades de reestruturação e inovação óbvias quando se quer alcançar um patamar de desenvolvimento nos moldes desejados. Principalmente um país com tantos atractivos para investimentos como é o caso de Cabo Verde que vão desde a estabilidade política e social, o grau de instrução da população, a posição geográficamente estratégica, baixos indíces de doenças contagiosas, uma população jovem e atractivos turísticos, deve necessáriamente reavaliar e reestruturar sua forma de trabalhar, adaptando-se aos moldes e boas práticas exigidas pelas instituições e empresas com as quais quer formar parcerias.
Espero sinceramente que o nosso Primeiro Ministro coloque em prática sua idéia que tem tudo para dar certo. Que este não seja apenas mais uma promessa de campanha!

1 comentários:

Anónimo disse...

Gostei, mais um excelente artigo minha querida irmã.Todos os teus artigos teem fundamento,são a pura verdade e vais directo ao ponto.É por isso q somos irmãos.Mas como teu irmão me preocupo contigo e devo te alertar pq te conheço e sei como és teimosa e qdo metes uma coisa na cabeça, ninguem consegue te convencer o contrário.Não é q não tás certa,pelo contrário.Mas infelizmente deves ter em conta q no Mundo em que vivemos,90% das pessoas na qual convivemos no dia-dia não são de confiança,incluindo muitos dos q acompanham o teu blog.Penso que deves continuar a pensar e a exprimir teus sentimentos como tal,mas tb acho q a escola da vida nos ensina como e qual o momento exacto em que devemos agir,o que dizer e como dizer.Qual a melhor arma a ser usada.Espero q nunca, mas temo q sejas prejudicada,pois falam na liberdade de expressão e na democracia,mas elas existem em todo o lado,menos na cabeça do ser humano,o pior animal à face da terra.Bjs, te amo fofa.

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